PERMANECENDO NA VERDADE:
O PERIGO DOS FALSOS MESTRES
Por Fernando Batista de Oliveira Souza
Pregado na Congregação da PIB Dr.
Roberto em 05/07/2018
Culto de Ensino Bíblico
TEXTO
1 O presbítero à senhora eleita e aos seus
filhos, a quem eu amo na verdade e não somente eu, mas também todos os que
conhecem a verdade,
2 por causa da verdade que
permanece em nós e conosco estará para sempre,
3 a graça, a misericórdia e a paz, da parte de
Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho do Pai, serão conosco em verdade e amor.
4 Fiquei sobremodo alegre em
ter encontrado dentre os teus filhos os que andam na verdade, de acordo com o
mandamento que recebemos da parte do Pai.
5 E agora, senhora, peço-te, não como se
escrevesse mandamento novo, senão o que tivemos desde o princípio: que nos
amemos uns aos outros.
6 E o amor é este: que
andemos segundo os seus mandamentos. Este mandamento, como ouvistes desde o
princípio, é que andeis nesse amor.
7 Porque muitos enganadores têm saído pelo
mundo fora, os quais não confessam Jesus Cristo vindo em carne; assim é o
enganador e o anticristo.
8 Acautelai-vos, para não
perderdes aquilo que temos realizado com esforço, mas para receberdes completo
galardão.
9 Todo aquele que ultrapassa a doutrina de
Cristo e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem
tanto o Pai como o Filho.
10 Se alguém vem ter convosco
e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas.
11 Porquanto aquele que lhe dá boas-vindas
faz-se cúmplice das suas obras más.
12 Ainda tinha muitas coisas
que vos escrever; não quis fazê-lo com papel e tinta, pois espero ir ter
convosco, e conversaremos de viva voz, para que a nossa alegria seja completa.
13 Os filhos da tua irmã eleita te saúdam.
2 João 1-13
INTRODUÇÃO.
Esta segunda epístola de João,
juntamente com a terceira epístola, com a epístola de Judas e a carta de Paulo
a Filemom, são os menores livros do Novo Testamento.
João, tanto na segunda quanto na
terceira epístola trata dos mesmos assuntos tratado na sua primeira epístola,
contudo de uma forma mais resumida. Falando do amor, da verdade, dos falsos
mestres e falsos cristos, o contraste entre o mundo e a igreja, luz e trevas,
etc.
Para entender esta epístola é
preciso conhecer seu contexto histórico. E um ponto importante para essa
compreensão é o império romano. Roma, por meio de sua pax romana (paz romana) que através de suas legiões, mantinha a paz
em todo império, estabeleceu estradas que ligava diversas cidades umas às
outras, principalmente a Roma. Estas estradas eram seguras e havia formado
comunidades ao longo de seu percurso facilitando a locomoção dos comerciantes e
outros seguimentos sociais, inclusive os “missionários” que iam de cidades a
cidades anunciando o Cristo.
Contudo, nem tudo era um mar de
rosas, pois em cada cidade era necessário se estabelecer. Não havia os hotéis e
pousadas que temos hoje. Havia estabelecimento para dormir, mas em péssimas
condições cheias de doenças e pulgas. Além disso, alguns ficavam pertos de
lugares como prostíbulos ou lugares inadequados moralmente. Diante de tudo
isso, os cristãos, principalmente pregadores, mestres, evangelistas, apóstolos,
necessitavam da hospitalidade de outros irmãos que moravam em diversas cidades.
Havia muitos irmãos
hospitaleiros, principalmente por causa da recomendação apostólica. Porém esta
hospitalidade proporcionavam muitos perigos. Muitos desses cristãos viajantes
eram falsos mestres ou oportunistas, querendo tirar proveito material dos
anfitriões. Muitas vezes os recepcionistas não apenas acomodavam os viajantes,
como também davam o sustento necessário para continuar a viagem. Diante disso,
muitas heresias eram disseminadas entre irmãos, que sem “malícia” alguma
recebiam falsos mestres e juntamente com eles os falsos ensinos. E, em alguns
casos, os falsos mestres achava terra fértil, desviando da verdade o irmão
despercebido.
Por isso, está epístola é um
alerta sobre como receber cristãos em suas residências. Portanto, vejamos neste
estudo o que o Espírito Santo, por meio de João, tem a nos ensinar.
I – SAUDAÇÃO (1-3)
1 O presbítero à senhora eleita e aos seus
filhos, a quem eu amo na verdade e não somente eu, mas também todos os que
conhecem a verdade,
2 por causa da verdade que
permanece em nós e conosco estará para sempre,
3 a graça, a misericórdia e a paz, da parte de
Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho do Pai, serão conosco em verdade e amor.
1. O presbítero – João
na se identifica como autor da epístola, mas como o presbítero. Esta
denominação não se dá pela idade, ancião, mas pelo título ou ofício. Além
disso, ele sabia que os irmãos o reconheceriam por esta descrição.
2. A Senhora eleita (Eklekta Kyria) – aqui reside um problema: a
maioria dos estudiosos não tem um consenso sobre o destinatário. Quem era a
Senhora eleita? Era uma mulher ou uma personificação da igreja? Alguns dizem que
kyria era uma expressão de carinho,
escrita a uma mulher chamada Electa; outros por sua vez que era uma mulher
chamada Kyria, e ele usa o termo escolhida, para dizer escolhida por Deus, se
tratando de uma carta de amor; outros ainda que os dois nomes sejam nomes
próprios Electa Kyria. Além disso, há uma tendência de identificar a
destinatária como Maria mãe de Jesus, por sua tradição de residir na Ásia, ou
por Marta, tudo na realidade não passa de conjectura sem fundamento.
3. É uma personificação da igreja – não se referindo à igreja universal ou geral, mas
uma determinada comunidade cristã específica em algum lugar da Ásia. Há muitos
argumentos no próprio texto para crermos assim. No verso 1 ele diz “senhora eleita
e seus filhos”, e no verso 13 “os filhos da tua irmão eleita te saúdam”. Se
fosse uma mulher ela tinha uma irmã que estava onde João estava. Além disso,
fala no início que ela teria vários filhos e que alguns se desviaram da verdade
e outros permaneceram. Além disso, João se refere a eles com mandamentos. Quem
escreveria para uma pessoa amada referindo-se a mandamentos? Ainda mais, o tom
utilizado não se refere a alguém individual, mas uma comunidade, ou um grupo.
Outro motivo seria o de haver muita perseguição contra os cristãos e
possivelmente João usa estes termos para esquivar-se de ser percebido, ou por
em risco a comunidade cristão. Portanto a Senhora Eleita, era a igreja, ou
comunidade cristã, específica objeto da carta de João.
4. Amo na verdade (a palavra é usada 5 vezes) – João se dirige à igreja referindo-se ao
amor que tem por esta igreja com os termos “amo na verdade” e diz também que
todos que conhecem a verdade amam a esta igreja. João não quis dizer que amava
verdadeiramente a igreja, apensar de seu amor ser verdadeiro, nem por amor da
verdade, mas que a verdade era um elo de amor que ligava João e a igreja. Os
cristãos devem amar ao próximo e também aos inimigos, mas com os irmãos da fé existe
um amor mais profundo, pelo fato de compartilharem a verdade. Isto é algo do
Espírito Santo. Indiscutível!
5. A Verdade – esta
palavra é repetida 5 vezes nesta epístola e somente nos versículos de 1 a 3 ele
se repete 4 vezes. João diz que a verdade está conosco, mas também estará para
sempre. Os falsos cristãos, os hereges pode abandonar a fé, mas os verdadeiros
cristãos permanecem para sempre na verdade.
6. Saudação – João,
como os demais apóstolos, ao escrever usa de palavras de cunho espiritual em
sua saudação. Ele usa graça, misericórdia e paz. Ele diz que isso vem da parte
de Deus e de Jesus, mas acrescenta algo que outros escritores não fazem, “...
Jesus Cristo, o Filho do Pai”. Essa é uma ênfase teológica de João,
apresentando Jesus, não apenas como Messias, Cristo, mas como deidade: “Filho
do Pai”, ou seja, da mesma substância que o Pai.
II – MENSAGEM
(4-11)
PRIMEIRA PARTE DA MENSAGEM:
1. Andam na verdade - 4 Fiquei sobremodo alegre em
ter encontrado dentre os teus filhos os que andam na verdade, de acordo com o
mandamento que recebemos da parte do Pai. – muitos filhos da Senhora Eleita (membros da
igreja), não mais estavam na firmados na verdade. Contudo, alguns permaneciam
na verdade. Esse andar na verdade é o mesmo que seguir a verdade ou pela
verdade. Isso inclui crer na verdade. Que verdade é essa? É a verdade da
encarnação de Cristo Jesus. Essa verdade é um mandamento do Pai, foi revelado
por ele. Dessa forma, não estamos livre para viver ao nosso bel prazer, pelo
contrário, devemos viver pela verdade, lembrando que há consequências por
desobedece-la.
2. Amor - 5 “E agora, senhora, peço-te, não como se
escrevesse mandamento novo, senão o que tivemos desde o princípio: que nos
amemos uns aos outros.” Juntamente
com o mandamento anterior, Crer, o amor é aludido aqui. Fé e amor são as bases
do viver cristão. Para eu amar a Deus, necessário é crer nele. João fala algo
que já é conhecido dos irmãos, ou seja, não é mandamento novo. Interessante que
ele não exige que a igreja ame e se exime desta responsabilidade, pelo
contrário, ele usa o termo “que nos amemos uns aos outros”. Isto é importante
porque muitos líderes exigem da sua igreja algo que eles não fazem.
3. Mandamentos e amor – “6 E o amor é este: que andemos segundo os seus
mandamentos. Este mandamento, como ouvistes desde o princípio, é que andeis
nesse amor”. Parece
confuso esse texto: o amor é andar no mandamento e o mandamento é andar neste
amor. Isto nada mais é do que uma forte ligação entre amor e obediência. Se eu
amo eu cumpro os mandamentos de Deus (todos os mandamentos que Deus tem
estabelecido); e qual é o mandamento? Andar nesse amor. Mas o amor não é
obedecer aos mandamentos? Como pode o mandamento ser andar no amor. Qual é o
resumo da Lei: amar a Deus sobre todas as coisas, com toda a força e coração; e
amar ao próximo como a mim mesmo. Agindo assim cumpriremos a Lei, em amor.
SEGUNDA PARTE DA MENSAGEM
1. Enganadores – “7 Porque muitos enganadores
têm saído pelo mundo fora, os quais não confessam Jesus Cristo vindo em carne;
assim é o enganador e o anticristo”. Muitos falsos cristãos, falsos cristos, enganadores
estavam circulando pelas estradas romanas. Esses enganadores iam hospedar nas
casas dos irmãos levando falsas doutrinas. É interessante observar que esses
falsos mestres acreditavam que eram enviados por Deus. Eles não se viam como pessoas
erradas, mas como portadores da verdade. Contudo, João, conhecedor da verdade
sabia que eram enganadores. Quais eram suas doutrinas? Eles negavam a
encarnação de Cristo, ou seja, que Cristo veio em carne. Havia uma crença comum
no meio gnóstico que era que Jesus se tornou Cristo no batismo e que deixou de
ser Cristo antes de sua morte. Heresia! A verdade é que as duas naturezas
divina e humanas estavam em Cristo em seu nascimento e em sua morte e
ressurreição. João assevera que quem nega que Cristo veio em carne, não é um
enganador e anticristo, mas o enganador e o anticristo. (ilustração do pastor
que veio falar que o 4º anjo do apocalipse era Souto Santiago)
2. Acautelai-vos – 8 “Acautelai-vos, para não perderdes aquilo que
temos realizado com esforço, mas para receberdes completo galardão.” É uma advertência severa para os
irmãos. Para ter cuidado com esses falsos mestres. Não poderiam relaxar em sua
vigilância. A importância dessa advertência se dá de duas formas: uma positiva
e outra negativa. A negativa é que se deixarmo-nos levar pelos falsos mestres
perderiam algo alcançado com esforço; e positivamente se nos mantermos firmes
receberemos completo galardão. Não se trata aqui de salvação, porque a salvação
nos foi dada gratuitamente e não pelos méritos ou esforços, mas se trata de
receber recompensas pelo serviço prestado ao Senhor de forma fielmente.
3. Ultrapassar a Doutrina de Cristo 9 “Todo aquele que ultrapassa a doutrina de
Cristo e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem
tanto o Pai como o Filho.” Ultrapassar é o mesmo que “vai para a frente”, “vai longe demais, à
frente”. É o tipo de doutrina defendida pelos gnósticos, em que segundo eles,
alcançavam um nível de conhecimento que estavam acima dos demais cristãos. Na
realidade eles ultrapassavam tanto a Cristo, deixando-o para traz. João diz que
quem faz isso não tem Deus; mas o que permanece tem tanto o Pai como o Filho.
Muitos hoje querem Deus, mas não querem Jesus. Muitos dizem que crê em Deus,
mas não seguem os ensinamentos de Jesus.
4. Não Recebam Eles - 10 “Se alguém vem ter convosco e não traz esta
doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas.” Alguns consideram essa ordem de
João um pouco extrema, alegando que contraria a mensagem do evangelho de sermos
hospitaleiros. Interessante observar que João não está proibindo a igreja de
hospedar cristãos que tem a fé distorcida, ou que crê em alguma heresia, mas de
falsos mestres. Esses são pessoas que vão às casas intencionalmente para
subverter a fé das pessoas. A esses João diz para não receber nem lhes dá boas
vindas. Interessante também que João aborda sobre como é que se conhece o falso
mestre, ou seja, através de sua mensagem: “quem não traz essa doutrina”.
5. Cumplices - 11 “Porquanto aquele que lhe
dá boas-vindas faz-se cúmplice das suas obras más.” João estava nervoso. Quem
descobre que uma pessoa é um falso mestre, cujas intenções são claras de
desviar a verdade com a mentira, mesmo que tais mestres criam que estão falando
a verdade, e mesmo assim hospeda em sua casas, faz-se cumplice de suas obras
más. Mas não estaria João exagerado? É correto deixar uma pessoa ao relento por
ser um falso mestre? E o amor que agora pouco ele falou? Na verdade às vezes
nós devemos ser rigorosos para com a verdade. É importante observar que é
também um caso específico de falsos mestres que negam a encarnação de Cristo.
Além disso, há dúvidas se João está se referindo às casas de crentes, ou às
casas usadas como reunião da igreja. Isto porque não havia templos como hoje. E
muitas vezes os mestres falsos eram pessoas que vinha de certa forma agendados
para determinado lugar.
III – CONSIDERAÇÕES FINAIS
(12,13)
12 Ainda tinha muitas coisas
que vos escrever; não quis fazê-lo com papel e tinta, pois espero ir ter
convosco, e conversaremos de viva voz, para que a nossa alegria seja completa.
13 Os filhos da tua irmã eleita te saúdam.
CONCLUSÃO